quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Os Nascimentos | 1546 – Potosí

A prata de Potosí

Cinquenta índios caídos por terem-se negado a servir nos túneis da mina. Não faz um ano que apareceu o primeiro veio e já se mancharam de sangue humano as ladeiras do morro. E a uma légua daqui, os penhascos da quebrada mostram manchas de um verde quase negro: sangue do Diabo. O Diabo tinha fechado a pau e pedra a quebrada que conduz a Cuzco e esmagado os espanhóis que passavam por ali. Um arcanjo arrancou o Demônio de sua cova e despedaçou-o contra as rochas. Sangue de índio, sangue de Diabo: agora, as minas de prata de Potosí têm mão de obra e caminho aberto.
Antes da conquista, em tempos do Inca Huaina Cápac, quando o pico de pedra afundou nas veias de prata do morro, houve um espantoso estrondo que estremeceu o mundo. Então, a voz do morro disse aos índios:
Outros donos tem esta riqueza.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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