Nada
disto deve ser valorizado:
I.
a transpiração, uma vez que é comum às plantas;
II.
a respiração, comum aos animais domesticados e às bestas
selvagens;
III.
o recebimento de impressões por intermédio das aparências;
IV.
ser impulsionado pelo desejo tal como marionetes são impulsionadas
pelas cordas;
V.
ser reunido em rebanhos;
VI.
ser nutrido por alimentos, pois isso significa meramente separar e
retirar a porção inútil de nossa comida.
“O
que, então, vale a pena valorizar? Ser recebido com aplausos?”
Não.
Do mesmo jeito, não devemos apreciar o aplauso das línguas, pois o
elogio das multidões trata-se disso: línguas aplaudindo.
“Supondo
que desistiu dessa inutilidade chamada fama, o que de valor resta?”
Na
minha perspectiva, isto: mover-se e se restringir conforme a sua
própria constituição — fim para o qual todos os esforços e
todas as artes conduzem, pois o que foi feito deve se adaptar ao
trabalho para o qual foi constituído. O agricultor, que cuida das
suas videiras, o adestrador de cavalos e o treinador de cachorros
buscam esse fim. A educação e o ensino dos jovens visam algo, e
este é seu valor. Se esse for bom, você não buscará mais nada.
Não
deixará de valorizar outras coisas? Então não será livre, nem
suficiente para sua própria felicidade ou destituído das paixões.
Necessariamente, será invejoso, ciumento e desconfiado em relação
a quem pode tirar essas coisas de você. Além disso, conspirará
contra aqueles que têm o que você valoriza.
Quem
aprecia essas coisas se condena a um estado de perturbação e culpa
os deuses. Quem honra e reverencia o próprio entendimento está
contente consigo mesmo, em harmonia com a sociedade e em concordância
com os deuses — louvando tudo o que providenciam e ordenam.
Marco Aurélio, in Meditações
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