Cartão
de visita explosivo de um compositor até então inédito, “Pérola
negra” foi apresentada ao mundo durante a temporada de Fa-tal:
Gal a todo vapor, no Rio de Janeiro. O revolucionário show
dirigido por Waly Salomão (ou Sailormoon, como assinava na época o
poeta) estreou em novembro de 1971, no Teatro Tereza Raquel, e logo
virou um disco duplo que, quatro décadas depois, continua como um
dos melhores e mais influentes de Gal Costa. Entre canções de
Caetano, Novos Baianos, Macalé & Waly, Roberto & Erasmo e
sambas antológicos de Ismael Silva e Geraldo Pereira, chamou a
atenção aquele blues pesado e pungente, digno de uma Billie
Holiday, do desconhecido Luiz Melodia, que se transformou num dos
hinos do verão louco de 1972. Um sucesso que viraria clássico para
qualquer estação e revelaria um de nossos compositores mais
originais.
Descoberto
por Waly, o artista plástico Hélio Oiticica e o cineasta
underground Ivan Cardoso em suas andanças pelas periferias cariocas,
Melodia (1951) era um jovem negro do morro de São Carlos, junto ao
bairro do Estácio, que cresceu ouvindo tanto o samba quanto a Jovem
Guarda, tanto o forró quanto o rock, o blues e o soul. “Pérola
negra” é fruto dessa formação sem preconceitos nem limites, e
abriu as portas da indústria do disco para o extraordinário cantor
e compositor inspirado, que, ainda em 1972, emplacou na voz de Maria
Bethânia outra balada arrasadora, “Estácio, Holly Estácio”.
A
bela gravação de Gal foi um perfeito lançamento, mas “Pérola
negra” ganhou sua versão definitiva como canção-título do disco
de estreia de Melodia, em 1973. Em vez da roupagem roqueira de Gal
(arranjo do tropicalista Lanny Gordin, mas com a guitarra nas mãos
de Pepeu Gomes, que o substituiu no show), na versão do autor a
música ganhou uma embalagem luxuosa jazzy & bluesy em
clima de big band. Um tratamento mais lírico, centrado na voz
rascante e aveludada de Melodia, no piano de Antonio Perna, no baixo
de Rubão Sabino e no fraseado dos sopros. A letra é uma cantada
meio desesperada do compositor tentando seduzir sua musa, que chama
de “Pérola negra”, inspirado pelo nome de guerra de um travesti
do morro de São Carlos.
Na
verdade, a pérola negra da música brasileira é Luiz Melodia.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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