Marcela,
Sabina, Virgília... aí estou eu a fundir todos os contrastes, como
se esses nomes e pessoas não fossem mais do que modos de ser da
minha afeição anterior. Pena de maus costumes, ata uma gravata ao
teu estilo, veste-lhe um colete menos sórdido; e depois sim, depois
vem comigo, entra nessa casa, estira-te nessa rede que me embalou a
melhor parte dos anos que decorreram desde o inventário de meu pai
até 1842.
Vem;
se te cheirar a algum aroma de toucador, não cuides que o mandei
derramar para meu regalo; é um vestígio da N. ou da Z. ou da U. –
que todas essas letras maiúsculas embalaram aí a sua elegante
abjeção. Mas, se além do aroma, quiseres outra coisa, fica-te com
o desejo, porque eu não guardei retratos, nem cartas, nem memórias;
a mesma comoção esvaiu-se e só me ficaram as letras iniciais.
Vivi
meio recluso, indo de longe em longe a algum baile, ou teatro, ou
palestra, mas a mor parte do tempo passei-a comigo mesmo. Vivia;
deixava-me ir ao curso e recurso dos sucessos e dos dias, ora
buliçoso, ora apático, entre a ambição e o desânimo. Escrevia
política e fazia literatura. Mandava artigos e versos para as folhas
públicas e cheguei a alcançar certa reputação de polemista e de
poeta. Quando me lembrava do Lobo Neves, que era já deputado, e de
Virgília, futura marquesa, perguntava a mim mesmo por que não seria
melhor deputado e melhor marquês do que o Lobo Neves, – eu, que
valia mais, muito mais do que ele, – e dizia isto a olhar para a
ponta do nariz…
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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