domingo, 27 de novembro de 2022

Sesta

Sigo por teu corpo como pelo mundo.
Octavio Paz

Na sesta feliz entre as árvores,
Atravessa o sol as folhas, tudo arde,
O tempo corre entre a luz e o céu
Como um furtivo deus deixa as coisas.
O meio-dia flui em teu nu
Como o sopro de verão pelo ar.
Em teus seios trepidam os verões.
Sentes passar a terra por teu corpo
Como cruza uma estrela o firmamento.
À distância voa o mar como um pássaro.
Sobre o invencível pó em que dormes
Esta sombra ligeira marca o peso
De um abraço solar contra o destino.
Somos dois no alto de uma vida.
Somos um no alto do instante.
Teu corpo é uma lua impenetrável
Que o esplendor destrói nesta hora.
Quando abro tua carne firo o tempo,
Cubro com minha aflição a dinastia,
Basta minha voz para apagar os deuses,
Me afundo em ti para enfrentar a morte.
O meio-dia é vasto como o mundo.
Canta o corpo na luz, a terra canta,
Dança no sol de todas as cores,
Cada sabor é único em minha língua.
Sou um súbito amor por cada coisa.
Vejo, apalpo sem fim, cada sentido
É um espelho breve na delícia.
Te vejo envolta em um suor espesso.
Bebemos vinho tinto. As laranjas
Deixam seu agudo cheiro entre teus lábios.
São os grandes calores do verão.
O fugitivo sol busca tuas plantas,
O mundo foge pelo firmamento,
Enchemos este nada com as nuvens,
Furtamos ao ser cada momento,
Por igual te despi com nosso duelo.
Sei que vou morrer. Termina o dia.

Jorge Gaitán Durán, poeta colombiano

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