segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Contos dos bosques de Curitiba

Nelsinho encostou a porta, encurralada a moça no canto:
É hoje.
Roçou a sombra do lábio, a espinha na asa do nariz. Ela voltou-lhe a face: beijou-a ferozmente na boca.
Fechou a porta, empurrando-a com o pé. Certa que iriam ficar nos toques e blandícias, pendurou-se ao seu pescoço. Pousou a mão no peitinho, ela se encolheu, vergonha do seio pequeno? Era dona experiente, sem provocá-la não conseguia nada:
Duvido seja carne – é borracha!
Não faça isso. Vem gente. – Suspirosa, pesando cada vez mais no seu ombro. – Se vem gente?
O herói estendeu a mão, deu volta à chave:
Vem não.
Arquejante, estalou os dois colchetes, ergueu lhe a blusa. Ela que baixou o sutiã. Surgiram dois bocados cor-de-rosa:
Nunca vi coisinha mais linda!
Ai, mãezinha do céu, aquilo sim era seio – dois de uma vez, sem mentira. Se apertasse o biquinho espirrava leite?
Brasão de família, ela confidenciou que o da mãe era mais bonito.
Depressa. Vem gente.
Risinho abafado, queixou-se de cócega.
Que maravilha – a mão cheia, ele sopesava o fruto. – Ó perfeição da natureza!
Ares de distraída, olho ausente no teto:
Sou nervosa. Hoje estou fria.
Como é que você gosta?
Sem inspiração eu não posso.
Ah, é...
Beijava-a raivoso, lábio inchado de mordida. Ela titilou a língua no céu da boca. O herói, sem sair do lugar, descreveu duplo salto mortal.
Deslizou a mão no joelho, debaixo da saia cinza. Magra, usava anágua. Assustadiça, arregalou o olho:
Não. Não. Aqui não.
Seja boba.
Conversinha em sussurro, na ânsia louca do mais cobiçado prêmio da terra.
Querido, pode vir alguém.
Na última resistência, vencida pela surpresa. Levantou-lhe a anágua e viu - o que ele viu? Babados, brincos e rendas da ilha da Madeira!
Ai, você me machuca.
Da vacina contra varíola, queixou-se de íngua no braço.
Já faço benzedura de íngua.
A bela soltou o botão da saia e correu o fecho. Agora de blusa e anágua. Sem blusa. Sem anágua, desfeita aos pés. Magrinha e branca, dava pena - deitou-a no sofá de couro vermelho.
Espere, meu bem.
Ela derrubou o sapato, raspando na beirada o calcanhar. De joelho no tapete, Nelsinho babujou-lhe o seio.
Me olhe. Abra o olho.
Toda trêmula, escondeu o rosto no seu ombro:
Sinto vergonha. Gemido abafado de terror:
Tenha pena de mim!
Juro que...
Quem me dera um espelho, uma almofada, um anel mágico.
... não faço mal.
Sem inspiração, a bela enterrou-lhe a unha no pescoço:
Me beije. Ai, meu amor – e rilhando com fúria os dentes. - Ai, me beije.

Dalton Trevisan, in O vampiro de Curitiba

Nenhum comentário:

Postar um comentário