Como
uma forma de depuração, eu sempre quis um dia escrever sem nem
mesmo o meu estilo natural. Estilo, até próprio, é um obstáculo a
ser ultrapassado. Eu não queria meu modo de dizer. Queria apenas
dizer. Deus meu, eu mal queria dizer.
E
o que eu escrevesse seria o destino humano na sua pungência mortal.
A pungência de se ser esplendor, miséria e morte. A humilhação e
a podridão perdoadas porque fazem parte da carne fatal do homem e de
seu modo errado na terra. O que eu escrevesse ia ser o prazer dentro
da miséria. É a minha dívida de alegria a um mundo que não me é
fácil.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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