Nós, mulheres… as amáveis criaturas
que vão jogar seu nome no Google.
E que, num piscar de olhos, vão
descobrir o nome da sua mãe, o emprego do seu pai, com quem sua irmã
está saindo e em quais vestibulares você passou.
E, sim, nós já sabemos o nome do seu
cachorro por causa de um comentário da sua tia numa foto que seu
primo postou no Facebook, daquela festa de Natal de 2009 na sua casa.
E lembra daquele vídeo da sua viagem de
formatura do colegial que está esquecido no YouTube? Nós já vimos.
Umas quatro vezes, por sinal (a terceira e a quarta visualizações
foram para descobrir se aquela menina que aparece ao seu lado aos 56
segundos é a mesma que curtiu um post seu da semana passada).
Também sabemos que a camisa que você
estava usando na noite em que nos conhecemos é a sua favorita, uma
vez que você aparece com ela numa foto do réveillon desse ano, num
show do Seu Jorge e no aniversário daquele seu amigo de infância
que está meio careca (no vídeo da formatura ele ainda tinha
cabelo).
E a sua ex… Ah, a sua ex. Uma querida,
ela. Descobrimos, em uma fração de segundos, se ela usa unhas
postiças, se ainda gosta de você, se tem bolsas cafonas, se já fez
plástica e se só tira fotos da cintura pra cima (quem nunca?). Mas
não se preocupe, ela também já puxou nossa ficha. Sabe tipo
sanguíneo, antecedentes criminais, tom de base e se está na hora de
retocarmos nossos reflexos.
Mulheres dominam a gestão estratégica
das curtidas no Facebook. Tem horário certo, nada de curtir um
minuto depois da postagem. E as curtidas devem ser espaçadas e bem
distribuídas, não pode sair distribuindo like que nem uma louca.
Já os comentários em fotos, que são
atos bastante delicados, precisam ser previamente aprovados por uma
comissão de sete amigas num grupo de WhatsApp (que, por sinal, neste
momento tem 243 novas mensagens, dentre as quais fotos de jogadores
de futebol seminus, gravações de áudio que não se deve ouvir em
público e algumas – só algumas – críticas às fotos de
conhecidos no Instagram).
Por falar em WhatsApp, algo muito
parecido acontece com certas respostas que damos no chat com você.
Dependendo da gravidade do assunto, a comissão é ampliada para 11
ou 14 amigas, podendo até haver uma assembleia extraordinária
regada a cerveja numa terça-feira à noite para discutir a
construção ideal do texto de resposta, incluindo análise sintática
e minuciosa atenção às expressões empregadas (“Esses dias” é
absolutamente diferente de “Um dia desses”, assim como “A gente
se fala” é quase o oposto de “Até mais tarde”).
Importante frisar que também sabemos
que, se você visualizou o WhatsApp às 4h41 da manhã, aí tem. (Não
trabalhamos com a hipótese de que tenha sido um mero xixi de
madrugada, vislumbramos algo mais grave.)
Temos também um total e detalhado
controle sobre o significado emocional existente por trás da
dinâmica “online/ digitando…/ digitando…/ online/ digitando…”.
Ah, e Print screen de tela do WhatsApp
para as amigas darem uma olhadinha é algo absolutamente normal e
corriqueiro, tá? Se a conversa for muito importante, rola tipo uma
metralhadora de prints – pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá-pá,
congestionada nas paradas.
Aceite, amigo, mulheres vão saber tudo
isso muito antes de você imaginar que elas um dia pudessem imaginar.
Como dizem por aí, se ela quiser descobrir uma coisa, ela vai e
descobre dez. Não tem jeito, somos assim. E não é por mal… É
algo tão inevitável quanto celulite na parte externa na coxa.
E não pense que é fácil! Temos que
fazer um verdadeiro malabarismo para lembrar o que foi você que nos
contou e o que nós descobrimos fuxicando, para não dar fora. É
quase um jogo de xadrez mental.
Mas você deve se perguntar: “Meu Deus,
elas não têm mais o que fazer?” Fique sossegado. Averiguamos tudo
isso ao mesmo tempo em que pintávamos a unha, assistíamos à nossa
série preferida, destacávamos com marca-texto os trechos principais
do texto da pós, comíamos um iogurte grego e, claro, falávamos com
você no WhatsApp para poder te conhecer melhor. Tranquilo.
P.S.: Escrevi isso numa outra fase da
minha vida. Hoje já não faço mais essas coisas. Mentira.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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