Esse
Marquês de Maricá do compêndio de leitura dava-nos conselhos...
compendiosos... — verdadeira chatice, aliás... como se não
bastassem os conselhos de casa!
Felizmente
para a turma, o resto não era nada disso, pois tratava-se da Seleta
em prosa e verso de Alfredo Clemente Pinto, um mundo... quero
dizer, o mundo!
Logo
ali, à primeira página, o bom Cristóvão Colombo equilibrava para
nós o ovo famoso e, pelas tantas, vinha Nossa Senhora dar o famoso
estalinho no coco duro daquele menino que um dia viria a ser o Padre
Antônio Vieira.
Porém,
em meio e alheio a tais miudezas, bradava o poeta Gonçalves de
Magalhães:
“Waterloo!
Waterloo! lição sublime!”
Só
esta voz parece que ficou, porque era em verso, era a magia do
ritmo... e continua ressoando pelos corredores mal iluminados da
memória. (Em vão tenho procurado nos sebos um exemplar da
Seleta...)
Sim,
havia aulas de leitura naquele tempo. A classe toda abria o livro na
página indicada, o primeiro da fila começava a ler e, quando o
professor dizia “adiante!”, ai do que estivesse distraído, sem
atinar o local do texto! Essa leitura atenta e compulsória seguia
assim, banco por banco, do princípio ao fim da turma.
E
como a gente aprende a escrever lendo, da mesma forma que aprende a
falar ouvindo, o resultado era que — quando necessário escrever um
bilhete, uma carta — nós, os meninos, o fazíamos naturalmente, ao
contrário de muito barbadão de hoje. E havia, também, os ditados.
E, uma vez por mês, a prova de fogo da redação. E tudo isso ainda
no curso elementar. Pelo menos era assim em Alegrete. E é
comovidamente que escrevo aqui o nome de meu lente de português e
diretor do colégio, o saudoso professor Antônio Cabral Beirão.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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