Um
fama descobriu que a virtude era um micróbio redondo e cheio de
patas. Instantaneamente deu a beber a sua sogra uma grande colherada
de virtude. O resultado foi horrível: esta senhora renunciou a seus
comentários mordazes, fundou um clube para a proteção de
alpinistas perdidos e em menos de dois meses se comportou de maneira
tão exemplar que os defeitos de sua filha, inadvertidos até então,
passaram ao primeiro plano para grande sobressalto e assombro do
fama. Não teve outro remédio senão dar uma colherada de virtude a
sua mulher, que o abandonou nessa mesma noite por achá-lo grosseiro,
insignificante e completamente diferente dos padrões morais que
flutuavam rutilando perante seus olhos.
O
fama refletiu largamente e afinal tomou ele próprio um frasco de
virtude. Mas continuou da mesma maneira vivendo só e triste. Quando
cruza na rua com a sogra ou a mulher, se cumprimentam respeitosamente
e de longe. Não ousam sequer se falar, tamanha é a sua perfeição
respectiva e o medo que têm de contaminar-se.
Julio
Cortázar,
in Histórias
de Cronópios e de Famas
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