Algumas
pessoas olham através da vidraça, discutem sobre uma casa que estão
vendo, ao longe. Uma das pessoas diz que aquela casa é habitada por
um nobre, de hábitos aristocráticos e conservadores. Outra diz o
contrário, que lá mora um operário, membro do sindicato,
revolucionário. Uma terceira diz que os dois primeiros estão
errados: ele vê a casa, mas a casa está vazia. Ninguém mora nela.
Ela está vazia. Pedem a minha opinião. Eu me aproximo, eles apontam
através do vidro, na direção da casa. Olho, olho, e concluo que
alguma coisa deve estar errada com os meus olhos. Eu não vejo casa
alguma. O que vejo são os reflexos do meu próprio rosto, nos vidros
da vidraça.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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