Passei
dias no escritório lendo coisas, escrevendo coisas, discutindo
coisas, telefonando, providenciando, funcionando. E enquanto isso,
ela invadia a bela República do Chile e dançava e sorria por todos
os campos, entre a Cordilheira e o Mar. Ela havia chegado, e eu não
a vira, a Primavera.
Árvores
carregadas de flores; a brisa espalhando no ar leves painas, pólens,
sementes de amor. Que verde alegre, vivo, de folhas novas! Mas o
campo de trigo novo está brilhando ao sol com mil flores amarelas.
Pergunto ao lavrador que trabalha como se chamam essas flores lindas
que nascem no trigal. Ele me olha com admiração por ver um homem
tão ignorante e responde: yuyo. Tenho um ataque de inteligência e
traduzo: “joio”.
É
o joio, eterno irmão do trigo, irmão pobre e ruim que é preciso
separar do irmão rico e bom. “Separar o joio do trigo...”
Mas
não agora, no começo de outubro; irmão joio é que estende o
tapete dourado para que a Primavera venha bailar ao sol, na República
do Chile.
Rubem
Braga, in Ai de ti, Copacabana
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