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Como
me doem as estorinhas bem delineadas, sofregamente comportadas,
plenas de heróis, anti-heróis, de heroínas e vilãs; de vilas,
vilarejos, de urbanidades, sertões; de palácios, palafitas; de
sofrimentos, sofreguidões; de universos, regiões; de belezas,
feiuras, de esplendor, horrores; de explicativas, conexões; de
hipóteses, sem sínteses; de mensagens e morais; de anacrônicos,
lúdicos causos; de cores, rosas-do-mundo; de sorrisos, bobices
sociais; de travessas travessuras, que importa; de cronologias,
limites; de ambientes, vãos; de psicologias, mistérios; de
segredos, por desvendar; de tramas, tramoias, de becos, barcos,
velas, epifanias; de triângulos, traidoras tentações; de nome,
insinuações; de males, bens, de bons e maus, um bocado de coisas;
de inconfessáveis, confissões; de destinos, carta; de remetentes,
receptáculos; de meios e fins; de vera voraz, semelhança; de
negativa, aflição, ambígua. Doem, essas prosas prosaicas contadas
e descontadas em cada canto distraído dos outros, que de tudo falam
quando nada dizem; essas aventuras aprumadas que buscam desentortar o
mundo – felizmente, vasto em seu hiperbólico delírio. Mas, como
doem, as histórias, sempre as mesmas, dos que vencem mesmo quando a
vitória é o troféu obsoleto da vileza. De algum modo ou de todas
as maneiras, importa, para que valha a pena, poetizar o texto
efabulado entre rimas, repetições, aliterações, neologismos,
exacerbando a trama fabular com hipérbatos, altissonâncias,
pontuações e eufonias; este texto-rio desemboca no mar da poesia
feito verbo-corpo repertoriado no olhar das palavras que formam a
materialidade sígnica do que advém com os pecados, as virtudes, os
desejos, as paixões, o amor, a esperança, o medo, a morte e a vida.
Driblar a chatura das frases iguais e fugir do lugar comum, alcançar,
porventura, a virgindade dos vocábulos e instalar-se na poesia,
pois, poesia é sem porquê. Evoé.
R.
Leontino Filho,
in
As
ruas arejadas do verbo impuro
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