sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O homem no quarto

Teu protesto inútil,
tuas flores murchas,
teu violino fácil,
tua vontade escassa,

São frutos humildes,
são folhas perdidas
que um sapato esmaga
nascendo da sombra.

Caminhas sem rumo
por todas as ruas,
não rasgas um livro
nem matas o amigo.

Cumprimentas mesmo
com a garganta seca,
gestos tão longe
que ninguém esboça.

Meu coitado amigo…
prende a tua mão
antes que ela entorne
a copa de sangue.

Teus irmãos constroem
no ar atmosférico
com pedras e luzes
um berço pouco a pouco.

Não podes manchá-los
de sangue hesitante
nem deves turbar
o ritmo da aurora.

Acende o cachimbo,
eis uma poltrona.
Começa a vigília
sem impaciência,

Até que outros braços,
redentoras asas,
venham colocar
um lírio muito branco

na página e no verso
do teu melhor poeta…

José Paulo Paes, em Poesia completa

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