O
maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou
narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa... Me lembro que
fiz um soneto inteiro — bem certinho, bem clássico e tudo —
durante o assalto ao Quartel do Sétimo, isto é, quando um veterano
de 30 me contava mais uma vez a sua participação nas glórias e
perigos daquela investida.
As
velhotas que nos contam seus achaques também são de grande
inspiração poética.
Mas
que fazer contra a amabilidade agressiva do chato solícito? Aquele
que insiste em pagar nossa passagem, nosso cafezinho, ou quer
levar-nos à força para um drinque, ou faz questão fechada de nos
emprestar um livro que não temos a mínima vontade de abrir.
Ah!
ia-me esquecendo dos proselitistas de todas as religiões. Os
proselitistas amadores; que são os piores. Quanto aos sacerdotes que
conheço, registre-se em seu louvor que eles sempre me falam de
outras coisas. Ou me julgam um caso perdido ou um caso garantido.
Bem, qualquer que seja o caso, deixam-me em paz.
O
que pode acontecer de mais chato no mundo é o chato que se chateia a
si mesmo, o autochato.
Para
essa extrema contingência, descobri em tempo que a última solução
não é o suicídio. É escrever, desabafar para cima do leitor, o
qual, se me leu até aqui, a culpa é toda dele.
Há
gente para tudo.
Mário Quintana, em Caderno H
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