Dizes:
vou partir
Para
outras terras, para outros mares
Para
uma cidade tão bela
Como
esta nunca foi nem pode ser
Esta
cidade onde a cada passo se aperta
O
nó corredio: coração sepultado na tumba de um corpo,
Coração
inútil, gasto, quanto tempo ainda
Será
preciso ficar confinado entre as paredes
Das
ruelas de um espírito banal?
Para
onde quer que olhe
Só
vejo as sombras ruínas da minha vida.
Tantos
anos vividos, desperdiçados
Tantos
anos perdidos.
Não
existe outra terra, meu amigo, nem outro mar,
Porque
a cidade irá atrás de ti; as mesmas ruas
Cruzam
sem fim as mesmas ruas; os mesmos
Subúrbios
do espírito passam da juventude à velhice,
E
tu perderás os teus dentes e os teus cabelos
Dentro
da mesma casa. A cidade é uma armadilha.
Só
este porto te espera,
E
nenhum navio te levará onde não podes.
Ah!
então não vês que te desgraçaste neste lugar miserável
E
que a tua vida já não vale nada,
Nem
que vás procurá-la nos confins da terra?
Konstantinos Kaváfis (tradução de Daniel Gonçalves), em Ulisseia
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