Jaiminho Alça de Caixão (de paletó, no enterro do arquiteto Oscar Niemeyer)
Um
personagem da cidade do Rio de Janeiro que merece virar nome de rua e
enredo de escola de samba é Jaime Sabino, o Jaiminho Alça de
Caixão, homem que foi a mais de mil enterros e praticamente inventou
a profissão de papagaio de pirata. É mister esclarecer: “papagaio
de pirata” é a expressão popular que designa cidadãos
estrategicamente localizados atrás dos jornalistas que fazem
entradas ao vivo nas redes de televisão.
Além
de frequentar enterros, Jaiminho apareceu ao longo da carreira em
mais de cem entradas ao vivo de repórteres televisivos, sobre
variados temas. Sempre estava de terno, mesmo no calor inclemente
(tinha mais de duzentos, das tradicionais lojas Bemoreira Ducal, São
João Batista Modas e Imperatriz das Sedas). Impecavelmente cortados,
os cabelos do Alça de Caixão eram pintados de preto com os tabletes
Santo Antônio; tintura popular das mais famosas e encontrada nos
melhores estabelecimentos da cidade, como bancas de camelô e vagões
de trens da Central do Brasil.
Jaiminho
gostava de dizer que fugiu de casa aos sete anos de idade, em Feira
de Santana, Bahia, porque era muito castigado no colégio. A família
tinha condição de vida razoável, mas ele queria mais e veio para o
Rio de Janeiro com o sonho de ser artista. Contracenou com Cauby
Peixoto (fez o papel do irmão de Cauby em uma trama) e com a cantora
Marlene em fotonovelas das revistas Amiga e Sétimo Céu. Tentou
ainda a carreira cinematográfica. Seu maior momento como ator foi,
na condição de figurante, ter tomado um soco de Jece Valadão em um
filme da Atlântida. Costumava dizer, orgulhoso, que também teve
grande desempenho no papel de um defunto anônimo no clássico O
assalto ao trem pagador.
Jaiminho
encontrou a vocação fúnebre quando Getúlio Vargas morreu e ele
foi ao velório. Teve uma epifania e encontrou um sentido para a
vida: frequentar enterros segurando a alça do caixão para, como
dizia, “sentir o peso do defunto”.
Jaiminho
nunca revelou como conseguia se infiltrar em enterros diversos,
burlar esquemas de segurança, ficar ao lado de autoridades e
eventualmente levar o defunto até, como gostava de dizer, a última
morada. Chegou mesmo a dar autógrafos em diversos velórios, virou
celebridade e conseguiu patrocínio para ir a enterros fora do Rio de
Janeiro (como o de santa Dulce dos Pobres, na Bahia).
Profissionalmente,
Jaiminho era lotado como “assessor de assuntos externos” da
prefeitura de Nilópolis e torcedor da escola de samba Beija-Flor.
Fundou um museu dos papagaios de pirata no bairro do Rocha, subúrbio
carioca.
Jaiminho
admitiu ter ficado apavorado em um único enterro na vida: o do Rei
Momo Bola, que pesava trezentos quilos. Ele segurou a alça do
esquife e preparou-se para o cortejo. Na hora do esforço para
levantar o caixão, deu migué, teve um pico de pressão e abdicou do
direito de conduzir Bola ao derradeiro destino.
Jaiminho
também viveu um momento tenso quando, para não cair na tumba em que
estava sendo depositado o caixão do governador Leonel Brizola, o
prefeito Marcelo Alencar se escorou nele. Os dois quase foram parar
na sepultura, fazendo companhia ao falecido maragato.
A
rua que sugiro que homenageie Jaiminho é a Monsenhor Manuel Gomes,
em frente ao cemitério do Caju, onde ele foi enterrado duas vezes,
já que os coveiros erraram a sepultura em seu enterro e tiveram que
desenterrar e sepultar novamente o falecido. A homenagem seria justa.
Luiz Antonio Simas, em Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras
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