Com
meu nível no molto avanzato d’italiano, entendi que, cursando a
tal pós-graduação, voltaria de Roma com boas noções do Direito
do Trabalho italiano, bem como das diretrizes da União Europeia
acerca do tema, incluindo a liberdade de circulação de
trabalhadores, as políticas salariais e outras questões
deliciosamente complexas.
Andiamo,
partiu Roma. Enchi a mala com livros, canetas marca-texto,
computador, dois óculos de grau e tudo mais que denotasse minhas
melhores intenções acadêmicas para a empreitada. Cheguei bem,
acomodei as malas, explorei a universidade, reconheci os colegas. Que
beleza, vai ser uma boa temporada de estudos.
Mas
é preciso interagir, é claro. Una birra gelada com os colegas. Com
presunto, que maravilha de presunto. Mas vamos falar sobre Diritto
del Lavoro. Me digam o que acham acerca do... Pão, pão também é
bom. Com esse azeite de oliva mais virgem do que a Nossa Senhora e
sal grosso, fica realmente ótimo, com certeza, vale muito a pena
experimentar.
Vamos
para a aula. Mas não sem levar um cappuccino, é verdade. Essa
espuma de leite que eles colocam é um verdadeiro espetáculo. Chegou
o professor. Qual o nome dele? Pietro? Pietro de quê? Pietro
Fagioli? Tá de brincadeira. Professor Feijão. Realmente eles não
colaboram para que a gente tire o foco da comida. Mas tudo bem, vamos
lá, viemos para estudar.
Horário
de almoço. Salada caprese, que é levinha, para não ter sono nas
aulas da tarde. Mas tem gnocchi. E é com molho de tomate fresco,
nossa. Só um pouquinho, não vai pesar. Vocês vão tomar vinho? Uma
garrafa para quatro? Ok, não é assim tão mau. Vai ser tranquilo
voltar para a aula, certamente.
Temos
agora que nos reunir para debater o tema do trabalho em grupo.
Direito de greve. O que eu acho mais polêmico acerca disso é o fato
de que... Focaccia? Não, obrigada, agora não. Tá quentinha ainda?
Só um pedacinho então, vai. Nossa, que massa leve, né? Você
comprou aqui na cantina? Vou rapidinho pegar mais uma então, já
volto.
Mas,
pronto, hoje já é quarta-feira, vamos colocar 100% de foco no
curso. O Professor De Sena fala sobre o sistema sindical italiano.
Agora vai. No fim da aula nos sugere que visitemos uma bela exposição
de um escultor italiano chamado Arnaldo... Pomodoro. Eu suspiro,
enquanto abro um Baci Perugina que estava no cantinho da bolsa. Eu
juro que estou tentando.
Saímos
à noite. E era grissini pra cá, burrata pra lá, alcachofra,
salame, pasta, pizza, Valpolicella, Pinot Nero. Depois teve Grappa.
Limoncello. Aperol Spritz. Por incrível que pareça, nesse cenário
o debate jurídico laboral começou a florescer.
– Bem,
eu sinceramente discordo do Professor Pomodoro sobre a questão das
centrais sindicais.
– Não
é Pomodoro.
– É
pomodoro, sim – disse a outra colega, comendo seu linguine –,
pomodoro e mozzarella.
– Não.
O Professor. É Fagioli. Pomodoro é o pintor.
– Ah,
sim. Achei que era a minha massa.
– A
massa é pomodoro mesmo.
– Mas
voltando às centrais sind... Tem vinho ainda?
– Nas
centrais sindicais?
– Não.
Na garrafa. Acabou? Vamos pedir outra?
– Vamos,
mas continua aí com as centrais.
– Então,
aqui eles têm aquela lei... lei de pecorino?
– Não,
pecorino é queijo.
– Putz,
será que era lei de mascarpone?
– Certamente
não.
– Mas
o que dizia a lei?
– Dizia
que toda contribuição sind... Chegou o vinho.
– Pede
mais uns salaminhos, não?
– Sim,
uma tábua de frios.
– E
eu vou querer um tiramisù.
– Porque
nas centrais sindicais, o número de parcelas pag…
– E
um Amaretto.
– Dois.
– Três.
– Parcelas?
– Café.
– Sem
açúcar.
– Para
mim com.
– Pomodoro.
– Fagioli.
– Pecorino.
– Centrais
sindicais.
– Exato.
– Certamente.
– Como
não?
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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