domingo, 27 de setembro de 2020

O vento

Quando Deus fez o primeiro dos índios wawenock, ficaram alguns restos de barro sobre o chão do mundo. Com essas sobras, Gluskabe se fez a si mesmo.

E tu, de onde saíste? – perguntou Deus, atônito, lá das alturas.

Eu sou maravilhoso – disse Gluskabe. – Ninguém me fez.

Deus parou ao seu lado e estendeu a mão para o universo.

Olhe minha obra – desafiou. – Já que és maravilhoso, mostra-me que coisas inventaste.

Posso fazer o vento, se quiser.

E Gluskabe soprou com toda sua força.

E o vento nasceu e morreu em seguida.

Eu posso fazer o vento – reconheceu Gluskabe, envergonhado –, mas não posso fazer com que o vento dure.

E então soprou Deus, e tão poderosamente, que Gluskabe caiu e perdeu todos os cabelos.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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