segunda-feira, 1 de junho de 2020

Luz


[…] Não, não se aproximem, não sei se era bem uma luz. Melhor dizendo, era. Mas como algo que pudesse ser uma luz de brinquedo, uma falsa luz, uma coisa repugnante que tinha tomado o lugar da verdadeira luz, aquela boa e velha luz que fazia com que nossos avós vissem as coisas como elas são, simples, claras, necessárias. Essa coisa que tomava o lugar da verdadeira luz teve um parto difícil em mim. Me recusei terminantemente a reconhecê-la como minha legítima luz, a que eu esperava, a luz de que eu estava grávido desde que eu disse eu, olhei em volta e vi que aquilo. E foi à pseudoluminosidade dessa luz de mentira que entendi tudo, ou quase.”
Paulo Leminski, in Agora é que são elas

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