Etelberto
matriculou-se na Faculdade de Comunicação. Lá aprendeu que toda
matéria jornalística bem redigida há de responder às seguintes
perguntas: Quem? O quê? Quando? Onde? Por quê? Como?
Impressionou-se
de tal modo com a objetividade e o alcance da fórmula, que daí por
diante, a qualquer propósito e mesmo sem propósito algum, se
surpreendia indagando a si mesmo quem, o quê, quando, onde, por quê
e como.
Matutando
horas seguidas, concluiu que não só a notícia, mas toda a vida
terrestre deve ser considerada à luz dos seis dados, e esses dados
são os da aventura humana. A filosofia não pretende outra coisa
senão achar o porquê do quê, e esta chave continua insabida. O
como tarda a ser esclarecido totalmente, pairam dúvidas sobre o
quando, e muitas vezes torna-se impossível apurar quem é quem.
Estamos sempre interrogando a Deus, aos laboratórios, ao vento.
Etelberto
passou a ver o mundo como notícia mal redigida, que o copidesque não
teve tempo de reformular, ou não quis ou não soube. Desistiu de
diplomar-se em comunicação. Hoje mantém uma criação de trutas,
que lhe rende bom dinheiro. É fornecedor exclusivo de restaurantes
de cinco estrelas.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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