Os
famas são capazes de gestos de grande generosidade, como por exemplo
quando esse fama encontra uma pobre esperança caída ao pé de um
coqueiro, e pondo-a em seu automóvel a leva para sua casa e se ocupa
de alimentá-la e oferecer-lhe distração até que a esperança
ganhe forças e se atreva a subir outra vez no coqueiro. O fama se
acha muito bom depois deste gesto, e na realidade é muito bom, só
que não lhe ocorre pensar que daí a poucos dias a esperança vai
cair outra vez do coqueiro. Então, enquanto a esperança está
novamente caída ao pé do coqueiro, esse fama no seu clube se acha
muito bom e pensa na maneira como ajudou a pobre esperança quando a
encontrou tombada.
Os
cronópios não são generosos por princípio. Passam ao largo das
coisas mais comoventes, como seja uma pobre esperança que não sabe
amarrar os cordões dos sapatos e geme, sentada na beira da calçada.
Esses cronópios nem olham para a esperança, ocupadíssimos que
estão em seguir com os olhos uma baba do diabo. Com seres como esses
não se pode praticar a caridade de modo coerente; por isso nas
sociedades filantrópicas as autoridades são todas famas e a
bibliotecária é uma esperança. Dos seus cargos, os famas ajudam
muito os cronópios, que nem ligam.
Julio
Cortázar,
in Histórias
de Cronópios e de Famas
Nenhum comentário:
Postar um comentário