Lavadeiras, de Damião Martins
Entre
as lavadeiras de Mossoró,
Luzia se destaca. Sua pele é de ébano polido, reluzente, e dizem
que roupa lavada por suas mãos, não há brancura que a suplante em
todo o Norte.
A
pedra que Luzia recebeu de sua mãe, e esta de sua avó, faria inveja
às outras lavadeiras, de tão grande e listrada de veios de cor, se
Luzia não fosse tão boa colega. Frequentemente cede a sua pedra à
vizinha que namora com os olhos uma coisa tão importante e boa de
nela se bater roupa. Enquanto isso, Luzia afasta-se, fica pensando no
marinheiro de Santos.
Por
que marinheiro, por que de Santos? Porque sua sina é casar-se com
ele, segundo anuncia o sinal escrito na pedra. Luzia nunca saiu de
Mossoró, e de marinheiros em geral tem escassa notícia. Mas Rufino
a espera em Santos, é a pedra que o diz, lida e interpretada pela
comadre de Luzia, que sabe a lição das coisas e nunca errou nos
vaticínios.
Lá
vai Luzia a caminho de Santos, as colegas choram ao apitar o vapor,
Luzia tem lágrimas nos olhos empapuçados e vermelhos. Na pedra
ninguém tocará, é a pedra de Luzia, encantada. Salvo se a comadre
descobrir nela novo destino.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos
plausíveis
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