segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Lavadeiras de Mossoró - II

Lavadeiras, de Damião Martins

Entre as lavadeiras de Mossoró, Luzia se destaca. Sua pele é de ébano polido, reluzente, e dizem que roupa lavada por suas mãos, não há brancura que a suplante em todo o Norte.
A pedra que Luzia recebeu de sua mãe, e esta de sua avó, faria inveja às outras lavadeiras, de tão grande e listrada de veios de cor, se Luzia não fosse tão boa colega. Frequentemente cede a sua pedra à vizinha que namora com os olhos uma coisa tão importante e boa de nela se bater roupa. Enquanto isso, Luzia afasta-se, fica pensando no marinheiro de Santos.
Por que marinheiro, por que de Santos? Porque sua sina é casar-se com ele, segundo anuncia o sinal escrito na pedra. Luzia nunca saiu de Mossoró, e de marinheiros em geral tem escassa notícia. Mas Rufino a espera em Santos, é a pedra que o diz, lida e interpretada pela comadre de Luzia, que sabe a lição das coisas e nunca errou nos vaticínios.
Lá vai Luzia a caminho de Santos, as colegas choram ao apitar o vapor, Luzia tem lágrimas nos olhos empapuçados e vermelhos. Na pedra ninguém tocará, é a pedra de Luzia, encantada. Salvo se a comadre descobrir nela novo destino.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis

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