domingo, 27 de outubro de 2019

A natureza transforma e cria

Um pepino é amargo? Joga-o fora. Há espinheiros no caminho? Evita-os. Isso basta. Não acrescentes: ‘Por que, então, existem essas coisas no universo?’ Farias rir o homem que estuda a natureza, como farias rir o carpinteiro e o sapateiro se achasses merecedor de reparos o fato de veres em suas oficinas raspas e tiras, resíduos dos materiais com que trabalham. Todavia eles têm onde lançar esses resíduos. A natureza universal, ao contrário, nada tem de exterior a ela. Mas a maravilha de sua indústria é que, tendo traçado ela mesma seus próprios limites, tudo que parece desgostar-se e envelhecer e tornar-se inútil em seu interior, ela faz reentrar em si mesma e transforma e cria, com esses resíduos mesmos, coisas novas, de tal forma que não necessita de materiais estranhos nem carece de um lugar onde possa jogar coisas podres. Ela contenta-se, pois, com o lugar que é seu e com o material que é seu e com a sua própria indústria.”
Marco Aurélio, in Meditações

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