“Um
pepino é amargo? Joga-o fora. Há espinheiros no caminho? Evita-os.
Isso basta. Não acrescentes: ‘Por que, então, existem essas
coisas no universo?’ Farias rir o homem que estuda a natureza, como
farias rir o carpinteiro e o sapateiro se achasses merecedor de
reparos o fato de veres em suas oficinas raspas e tiras, resíduos
dos materiais com que trabalham. Todavia eles têm onde lançar esses
resíduos. A natureza universal, ao contrário, nada tem de exterior
a ela. Mas a maravilha de sua indústria é que, tendo traçado ela
mesma seus próprios limites, tudo que parece desgostar-se e
envelhecer e tornar-se inútil em seu interior, ela faz reentrar em
si mesma e transforma e cria, com esses resíduos mesmos, coisas
novas, de tal forma que não necessita de materiais estranhos nem
carece de um lugar onde possa jogar coisas podres. Ela contenta-se,
pois, com o lugar que é seu e com o material que é seu e com a sua
própria indústria.”
Marco
Aurélio, in Meditações
Nenhum comentário:
Postar um comentário