E
Kolakowski chega a ponto de sugerir uma “filosofia do bufão”, o
riso tendo o poder mágico de produzir aquilo que os filósofos zen
denominavam satori, iluminação.
“A
filosofia do bufão é a filosofia que, em cada época, denuncia como
duvidoso aquilo que parece ser inabalável. Declaramo-nos a favor da
filosofia do bufão – aquela atitude de vigilância negativa frente
a qualquer absoluto. Declaramo-nos a favor dos valores
anti-intelectuais inerentes numa atitude cujos perigos e absurdos
conhecemos muito bem. É uma opção por uma visão de mundo que
oferece possibilidades para uma reorganização vagarosa e difícil
daqueles elementos que, em nossa ação, são os mais difíceis de
serem organizados: bondade sem que isto signifique tolerar tudo,
coragem sem fanatismo, inteligência sem apatia, e esperança sem
cegueira. Todos os outros frutos da filosofia são de importância
secundária.”
Nietzsche,
se não me engano, foi o grande mestre do riso. Com o que Nietzsche
concordava. Muito do seu uso iconoclasta das imagens pode ser
entendido como gozação, o seu jeito de dizer que o rei está nu. De
toda verdade que não é acompanhada por um riso “pelo menos
deveríamos dizer que é falsa”. E, ao final de um denso poema em
que fala sobre a sua diferença, ele se resume: “Sou apenas um
bufão! Sou apenas um poeta!”. É fácil confundir o bufão com
o louco ou com um tolo. Foi o que o velho eremita disse ao se
encontrar com Zaratustra quando descia da montanha onde passara dez
anos de solidão:
“Esse
viandante não me é estranho; muitos anos atrás ele passou por esse
caminho. Ele se chamava Zaratustra. Mas ele mudou. Naquele tempo tu
levavas tuas cinzas para as montanhas; e agora tu levas teu fogo para
os vales? Não tens medo de ser punido como incendiário?”
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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