As Três Graças (1638), de Peter Paul Rubens
Um
doutor em estética do corpo, ao visitar o Museu do Prado, em Madri,
achou que as Três Graças, na tela de Rubens, sofriam de
celulite, mais acentuada na Graça do centro.
Procurou
o diretor do museu e sugeriu-lhe que o quadro fosse submetido a
tratamento especial, de modo a ajustar os nus femininos aos cânones
de beleza e higidez que hoje cultuamos.
O
diretor ouviu-o polidamente e respondeu que nada havia a fazer, pois
as obras-primas do passado são intocáveis, salvo quando acidente ou
atentado tornam imperativa a restauração. Além do mais, pode ser
que no século XVII o que hoje chamamos de celulite fosse uma graça
suplementar.
À
noite, o esteta inconformado tentou penetrar no museu, foi impedido e
preso. Interrogado, explicou que queria raptar o quadro e confiá-lo
a famoso especialista em cirurgia plástica, pois o caso não era de
restauração nem de regime alimentar. Seria a primeira vez em que
uma obra de arte receberia tratamento médico especializado, feito o
qual tornaria ao museu.
O
homem foi mandado embora, com a advertência de que sua presença não
seria mais tolerada em museus espanhóis. E aconselhado a frequentar
assiduamente as praias, para se habituar às imperfeições do corpo
humano, que formam a perfeição relativa.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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