sábado, 26 de agosto de 2017

Piriris no boteco

E tem a história do Nascimento, que um dia quase brigou com o garçom porque chegou na mesa, cumprimentou a turma, sentou, pediu um chope e depois disse:
E traz aí uns piriris.
O quê? — disse o garçom.
Uns piriris.
Não tem.
Como, não tem?
— “Piriris” que o senhor diz é...
Por amor de Deus. O nome está dizendo. Piriris.
Você quer dizer — sugeriu alguém, para acabar com o impasse — uns queijinhos, uns salaminhos...
Coisas para beliscar — completou outro, mais científico.
Mas o Nascimento, emburrado, não disse mais nada. O garçom que entendesse como quisesse. O garçom, também emburrado, foi e voltou trazendo o chope e três pires. Com queijinhos, salaminhos e azeitonas. Durante alguns segundos, Nascimento e o garçom se olharam nos olhos. Finalmente o Nascimento deu um tapa na mesa e gritou:
Você chama isso de piriris?
E o garçom, no mesmo tom:
Não. Você chama isso de piriris!
Tiveram que acalmar os ânimos dos dois, a gerência trocou o garçom de mesa e o Nascimento ficou lamentando a incapacidade das pessoas de compreender as palavras mais claras. Por exemplo, “flunfa”. Não estava claro o que era flunfa? Todos na mesa se entreolharam. Não, não estava claro o que era flunfa.
A palavra está dizendo — impacientou-se o Nascimento. — Flunfa. Aquela sujeirinha que fica no umbigo. Pelo amor de Deus!
Luís Fernando Veríssimo, in A mesa voadora

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