Hoje
estamos vivendo em um Brasil feio. Não gosto do Brasil em que vivo
hoje. Um Brasil que só fala de números. O Brasil vai bem porque a
economia vai bem. Mas e nós, o povo? Nós estamos bem? Estamos
seguros, respeitados? Estamos dignamente humanos? Temos uma escola
boa, uma saúde boa? Temos uma segurança boa? O Brasil vai bem
porque a economia vai bem. Mas e eu não conto? Sou apenas um número?
Estudei na física que o planeta não tem nem luz própria. Olha que
coisa terrível morar em um planeta que não tem nem luz própria.
Estamos em uma periferia do cão. E para ter o dia e a noite você
nem precisa de uma estrela de primeira grandeza. Uma estrela de
quinta grandeza, como o Sol, serve. Resolve isso numa boa. E ainda
temos alguma verdade para dizer? É só a dúvida que nos une, que
nos aproxima. É só disso que precisamos. Precisamos de amparo com a
nossa dúvida. E a literatura nos ampara. Tenho muito medo da
verdade. Não acredito que haja nada verdadeiro. Tive um professor de
filosofia, o padre Henrique Vaz, para quem eu perguntei “o que era
a fé”. Ele me respondeu que a fé é a dúvida. Tem dias que você
tem muita, tem dias que tem pouca, tem dias que não tem nenhuma.
Isso se chama fé, porque nos é possível somente a dúvida. Hoje,
estamos com muita gente encontrando a verdade. Quando uma pessoa
encontra a verdade, a única coisa que ela adquire é a
impossibilidade de escutar o outro. Ela só fala, não escuta mais.
Quem encontra a verdade só fala.
Bartolomeu
Campos de Queirós,
in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba - PR
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