1ª Faixa: Dorinda
Eu sou do tempo em que o sujeito
aprendia a dançar com as primas um pouquinho mais velhas. Delícia.
Claro que era coisa meio incestuosa. A família – implacável
censora de qualquer atitude que sugerisse sexo – liberava o sarro
com as primas. Prima, com ph e dois dês de Toddy.
Na galeria de primas inesquecíveis,
Gregório Barrios ao fundo, destacava-se Dorinda. Protestante.
Estrábica. O más bonito em mulher com discreto estrabismo é que
parece estar sempre à beira do orgasmo.
Em Dorinda, a suave mistura entre
recato e cara de vou-gozar me enlouquecia. E, além do mais, ela
ostentava um pequeno buço. Eu ficava repetindo, antes de dormir: o
buço da prima, o buço da Dorinda... De fato, buço é uma palavra
que provoca tresloucadas associações.
Quando a austera Dorinda me ensinava a
dançar, nas festinhas da Rua dos Artistas, os adultos quedavam
perplexos – talvez pela voz autoritária de Dodô (começou a
intimidade) caso eu errasse um passo mais elaborado, ou quiçá,
quiçá, quiçá pelo escândalo de minha barraca armada em contato
com aquda inflação de tafetá, organdi, babado inglês, um sutiã
como deis ariétes, anágua, combinação, meias com o fio corrido,
e..., e.., e... Bom, calcinhas, queridas, nem pensar. Se naquela
época passasse pela minha cabeça que, debaixo daquilo tudo, uma
calcinha de renda expunha mais do que velava o cabeludo tesouro da
Dodô, eu soltaria um berro tremendo e dispararia em direção ao
banheiro pra uma sessão-nostalgia de “contigo en la distancia”
pensando na Dodô, em sua cara de gozo e, lógico, em seu buço.
Ainda hoje, quando tomo uísque com
guaraná, ouço a voz de Dodô murmurando: “São dois pra lá, dois
pra cá” – embora, na verdade, ela gritasse comigo feito um
instrutor do CPOR.
Dodô, minha nega, enquanto cruzas
outros mares de loucura, guardo nosso 78 rotações favorito,
“Angustia”, com Bienvenido Granda (que buço!) e “Sonora
Matancera”, um lançamento da Mocambo que juntos compramos na
extinta Ótica Irany (Revelações, Cópias, Ampliações em 24
horas), lembra?
Tenho a impressão, Dodô, que esse
disco vai ficar girando em minha vida hasta que tu decidas regressar…
Aldir Blanc, em Brasil passado a sujo

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