sexta-feira, 24 de outubro de 2025

1596 – Londres

Raleigh

Bailarino do tabaco, fogueteiro fanfarrão, sir Walter Raleigh jorra pelo nariz cobrinhas de fumaça e pela boca anéis e espirais, enquanto diz:
Se me cortarem a cabeça, ela cairá feliz com o cachimbo entre os dentes.
Você fede – comenta seu amigo.
Não há mais ninguém na taverna, a não ser um escravinho negro que espera sentado em um canto.
Raleigh está contando que descobriu o Paraíso Terrestre na Guiana, no ano passado, lá onde se esconde a Manoa de ouro. Lambe os lábios recordando o sabor dos ovos de iguana e fecha as pálpebras para falar das frutas e das folhas que jamais caem das copas das árvores.
Escuta, colega diz. – Essa obra tua, a dos jovens amantes... Sim, essa. Naqueles bosques, que maravilha! Você a colocou em Verona e ela ficou com cheiro de porão. Se enganou de paisagem, querido. Aqueles ares...
O amigo de Raleigh, um calvo de olhos malandros, sabe que a tal Guiana é um pântano com o céu sempre negro de mosquitos, mas escuta em silêncio e concorda com a cabeça, porque também sabe que Raleigh não está mentindo.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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