Raleigh
Bailarino do tabaco, fogueteiro
fanfarrão, sir Walter Raleigh jorra pelo nariz cobrinhas de fumaça
e pela boca anéis e espirais, enquanto diz:
– Se me cortarem a cabeça, ela
cairá feliz com o cachimbo entre os dentes.
– Você fede – comenta seu amigo.
Não há mais ninguém na taverna, a
não ser um escravinho negro que espera sentado em um canto.
Raleigh está contando que descobriu o
Paraíso Terrestre na Guiana, no ano passado, lá onde se esconde a
Manoa de ouro. Lambe os lábios recordando o sabor dos ovos de iguana
e fecha as pálpebras para falar das frutas e das folhas que jamais
caem das copas das árvores.
– Escuta, colega diz. – Essa obra
tua, a dos jovens amantes... Sim, essa. Naqueles bosques, que
maravilha! Você a colocou em Verona e ela ficou com cheiro de porão.
Se enganou de paisagem, querido. Aqueles ares...
O amigo de Raleigh, um calvo de olhos
malandros, sabe que a tal Guiana é um pântano com o céu sempre
negro de mosquitos, mas escuta em silêncio e concorda com a cabeça,
porque também sabe que Raleigh não está mentindo.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário