Última
vez
O
amanhecer abre um corte ondulante na negra neblina e separa a terra
do céu.
Inês,
que não dormiu, se solta dos braços de Valdívia. Está toda
empapada dele e sente ferozmente vivo cada cantinho de seu corpo;
olha suas próprias mãos, na brumosa primeira luz, e assusta-se com
esses dedos que queimam. Busca o punhal. Ergue o punhal.
Valdívia
dorme ronroneando. Vacila o punhal no ar, sobre o corpo despido.
Passam-se
séculos.
Inês
crava suavemente o punhal no travesseiro, junto à cara dele, e se
afasta, na ponta dos pés pelo chão de terra. Deixa a cama toda
vazia de mulher.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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