Respeito as descobertas provisórias da ciência médica. Sem elas, eu já estaria morto. Mas não desprezo intuições de outras tradições que nos ajudam a compreender o mistério humano. Porque nós, humanos, não somos apenas matéria. Somos poesia. A poesia nos move. Se você duvida, é porque nunca amou. O corpo humano é tocado (no mesmo sentido em que um violino é tocado, um piano é tocado: o corpo é um instrumento musical...) por coisas que não existem. Manoel de Barros diz algo mais ou menos assim: “Tem mais presença em mim o que me falta...”. Pois um médico amigo que combina razão e coração, ciência e poesia, Ocidente e Oriente, comentou que é possível que a psicologia das mulheres, tão mais sensíveis à solidão que os homens, se deva ao destino triste ou alegre do óvulo: arrancado do seu ninho, é empurrado por um canal apertado que o leva a um vazio... E não lhe resta nada mais que a solidão da espera. Foi um óvulo neste estado de espera angustiosa que disse pela primeira vez: “To be or not to be, that is the question!”. O óvulo, produto das mulheres, tem sua origem na solidão. Já os espermatozoides têm suas origens na maratona, milhões de espermatozoides sendo lançados no mundo ao mesmo tempo (acho que Heidegger gostaria da metáfora...). São corredores, muitos, e é preciso chegar primeiro... O prêmio para o segundo colocado é a morte. Não seria por acaso que os homens gostam tanto de futebol, metáfora do grande evento inicial, todos os jogadores lutando por uma bola! Os espermatozoides também querem fazer gol. Só um consegue…
Rubem Alves, em Ostra feliz não faz pérola
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