quarta-feira, 14 de agosto de 2024

café da manhã

acordando em uma daquelas manhãs no depósito de bêbados,
lábio inferior arrebentado, dentes soltos, miolos nadando em
uma cacofonia que não é sua, com
todos aqueles outros estranhos enrolados em farrapos, agora
barulhentos em seu sono louco, com nada para lhe fazer
companhia a não ser uma privada entupida,
um assoalho frio e duro
e a lei de outra
pessoa.
e sempre havia uma voz matinal, uma voz alta:
CAFÉ DA MANHÃ!”
você normalmente não iria querer aquilo
mas se você quisesse
antes que pudesse pôr em ordem seus pensamentos
e ficar em pé
a porta da cela batia
e se fechava.
agora cada manhã é como um lento sonho
de satisfação. encontro meus chinelos, eu os calço,
vou ao banheiro, então desço a
escada com um turbilhão de corpos peludos, sou
o provedor, o deus, limpo as tigelas dos gatos, abro
as latas e converso com eles e eles se animam e
fazem seus sons ansiosos.
coloco as tigelas no chão enquanto cada gato vai para a sua
própria tigela, então reabasteço o pires com água
e olho todos os cinco comendo
em paz.
volto pela escada até o quarto
onde minha mulher ainda dorme, rastejo sob
as cobertas com ela, viro minhas costas para o sol
e logo estou dormindo de novo.
você tem que morrer algumas vezes antes de poder realmente
viver.

Charles Bukowski, em As pessoas parecem flores finalmente

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