9
Fay
estava grávida. Mas isso não a alterou e também não fez com que
as coisas mudassem nos Correios.
O
mesmo grupo reduzido de funcionários fazia todo o trabalho, enquanto
o resto do pessoal ficava parado por ali, discutindo as notícias do
esporte. Eram todos negrões fortes — com físicos de lutadores de
luta livre. Quando um novato entrava no serviço, era posto com essa
turma. Isso evitava que eles assassinassem os supervisores. Se esse
pessoal tinha um supervisor, você nunca o via. A turma trazia
contêineres carregados de correspondência que chegavam pelos
elevadores de carga. Isso tomava cinco minutos de uma hora de
trabalho. Às vezes, contavam a correspondência ou ao menos fingiam.
Pareciam muito calmos e intelectualizados, fazendo a contagem com
longos lápis sobre a orelha. Mas, na maior parte das vezes,
discutiam violentamente os eventos da cena esportiva. Eram todos
especialistas — liam os mesmos cronistas esportivos.
— E
então, cara, quem é o melhor rebatedor de todos os tempos?
— Bom,
Willie Mays, Ted Williams, Cobb.
— O
quê? O quê?!
— É
isso aí, cara!
— E
que tal o Babe? Que cê me diz do Babe?
— Tá
certo, tá certo, e quem é seu rebatedor preferido?
— O
de todos os tempos, não o preferido.
— Tá
certo, tá certo, você sabe o que quero dizer, baby, você sabe o
que quero dizer!
— Bem,
fico com Mays, Ruth e Di Maj!
— Vocês
estão malucos! Que tal Hank Aaron, baby? Que tal Hank?
De
uma só vez, todos os cargos desse pessoal foram declarados vagos. A
maioria foi preenchida por pessoas com maior tempo de casa. Acontece
que o pessoal aparecia e arrancava as propostas do livro de
nomeações. Não havia nada a fazer. Ninguém registrava uma queixa.
Era uma longa e escura caminhada até o estacionamento à noite.
10
Comecei
a sentir tonturas. Podia sentir quando iam chegar. A caixa começava
a rodar. Os surtos duravam um minuto. Não conseguia entendê-los.
Cada carta ia ficando mais e mais pesada. Os outros funcionários
começavam a ter uma aparência de um cinza mortiço. Eu deslizava de
minha banqueta. Minhas pernas mal me sustentavam. O trabalho estava
me matando.
Fui
ao meu médico e falei com ele a respeito disso. Tirou minha pressão.
— Não,
não, a pressão está boa.
Então
me auscultou e depois conferiu meu peso.
— Não
há nada de errado com você.
Então
resolveu aplicar um exame de sangue especial. Tiraria sangue do meu
braço três vezes, de forma intervalada, deixando correr um lapso de
tempo cada vez maior entre a primeira e a última amostra.
— Importa-se
de esperar na outra sala?
— Não,
não, vou dar uma volta e retorno na hora marcada.
— Tudo
bem, mas volte em tempo.
Cheguei
a tempo para a segunda extração. Até a terceira haveria uma espera
maior, de 20 a 25 minutos. Fui dar uma caminhada lá fora. Nada de
muito interessante estava acontecendo. Entrei em uma loja de
conveniências e li uma revista. Deixei-a de lado, olhei para o
relógio e saí. Vi uma mulher sentada no ponto de ônibus. Era uma
dessas criaturas raras. Revelava uma porção generosa de suas
pernas. Não conseguia tirar meus olhos da mulher. Atravessei a rua e
fiquei a uns vinte metros de distância.
Então
ela se levantou. Eu tinha de segui-la. Seu rabo gigantesco me
acenava. Eu estava hipnotizado. Ela entrou em um posto dos Correios e
eu entrei atrás. Ficou em uma fila e eu atrás dela. Comprou dois
postais. Eu, doze postais via aérea e dois dólares em selos.
Quando
saí, ela estava subindo no ônibus. Vi pela última vez suas pernas
e bunda deliciosas entrando no ônibus que a levaria embora.
O
médico me esperava.
— O
que aconteceu? Está cinco minutos atrasado!
— Não
sei. O relógio deve ter parado.
— ESSE
NEGÓCIO TEM DE SER EXATO!
— Vá
em frente. Tire o sangue assim mesmo.
Ele
me espetou a agulha...
Dois
dias depois, os testes revelaram que não havia nada de errado
comigo. Não sei se foram os cinco minutos de diferença ou o quê.
Mas as tonturas pioraram.
Comecei
a bater o meu cartão de ponto após quatro horas de serviço, sem
preencher os formulários adequados.
Chegava
às onze da noite e lá estava Fay. A tadinha da Fay grávida.
— O
que aconteceu?
— Não
aguentava mais — eu dizia —, estou muito sensível…
Charles Bukowski, em Cartas na Rua
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