Duas
semanas mais tarde, na manhã de uma quinta-feira, dia de pagamento,
acharam o agiota morto em sua guarita de vigilância. Estava jogado
no chão de tábuas baldeadas com petróleo, com todas as carteiras
de identidade espalhadas sobre seu cadáver. Tinha sido morto a
golpes com o cabo de uma pá.
Os
quatro guardas que formavam a guarnição do destacamento – todos
gordos e frouxos de inatividade –, finalmente tiveram com que se
distrair. Além de envenenar cachorros e percorrer as ruas com
displicência, com as mãos entrelaçadas nas costas, o único
trabalho que faziam era levar presos, cada fim de semana, dois ou
três bebadinhos para que varressem o destacamento e limpassem a
bunda dos cavalos.
Os
primeiros suspeitos foram os donos dos documentos empenhados. Os
guardas interrogaram cada um deles, em especial os maridos de um par
de mulheres que para recuperar os documentos – todo mundo no
povoado sabia disso – entravam de noite na casa do agiota. Mas
todos se livraram de qualquer acusação.
Como
o morto não tinha familiares conhecidos, passado um breve tempo os
habitantes do acampamento se esqueceram do assunto, e ninguém se
importou que seu assassinato ficasse sem se esclarecer. Pelo
contrário, eram muitos os que não conseguiam dissimular a cara de
contente, pois com sua morte a dívida de todos ficou anulada.
Falava-se que até os guardas andavam com um sorriso de orelha a
orelha. Eles também viviam enforcados pelos empréstimos de dom
Nolasco.
Além
disso, por aqueles dias anunciou-se no cinema Os dez mandamentos.
Ninguém
falava de outra coisa.
Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes
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