terça-feira, 30 de julho de 2024

Capítulo 156 | Orgulho da Servilidade

O Quincas Borba divergiu do alienista em relação ao meu criado. – Pode-se, por imagem, disse ele, atribuir ao teu criado a mania de ateniense; mas imagens não são ideias nem observações tomadas à natureza. O que o teu criado tem é um sentimento nobre e perfeitamente regido pelas leis do Humanitismo: é o orgulho da servilidade. A intenção dele é mostrar que não é criado de qualquer. – Depois chamou a minha atenção para os cocheiros de casa-grande, mais impertigados que o amo, para os criados de hotel, cuja solicitude obedece às variações sociais da freguesia, etc. E concluiu que era tudo a expressão daquele sentimento delicado e nobre, – prova cabal de que muitas vezes o homem, ainda a engraxar botas, é sublime.

Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas

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