Meu
pai sempre dizia, quando falava do sortilégio dos nomes com eme,
que esse era o segredo dos maiores artistas de cinema. Se não,
bastava olhar para Norma Jean: não passava de uma empregadinha de
loja até se rebatizar como Marilyn Monroe. Ou, se preferissem o
exemplo ao contrário, aí estava Cantinflas, o maior dos cômicos do
cinema hispânico, e que tinha triunfado graças a se chamar na vida
real Mario Moreno. Era simples assim. Não acredita? Meu pai fazia
uma pausa, olhava para o interlocutor como o verdugo olharia para o
condenado antes do golpe, e acrescentava aquilo que uma vez tinha
ouvido por aí e que para ele vinha a ser a confirmação
indesmentível de sua teoria, uma espécie de machadada mortal.
“A
senhorita sabia, paisaninha” – dizia ele, saboreando as palavras
– “que no começo, quando era apenas um artista de circo, Mario
Moreno atuava fazendo dupla com um cômico que se chamava Manuel
Medel?”
Agora
chego a acreditar que gostava mais de Marilyn Monroe pelos emes de
seu nome que por qualquer outra coisa. Ele sempre quis ter uma “filha
mulher” para batizar desse jeito. Minha mãe dizia que nem morta.
Ela garantia detestar “essa loura oxigenada que nem sabe trabalhar
direito nos filmes”. E, no entanto, era a atriz que ela imitava ao
caminhar. E quando, pouco antes de nos abandonar, ouviu a notícia da
sua morte, chorou a noite inteira, inconsolavelmente.
Como
em casa, para decepção de meu pai, começou a nascer um homem atrás
de outro, não houve maiores problemas na hora de escolher os nomes,
a não ser quando chegou o quarto filho. Foi quando ele não aguentou
mais e quis batizá-lo como Marilyno.
Minha
mãe se opôs com uma faca de cozinha na mão.
A
grande guerra, porém, foi quando eu nasci. Diziam que meu pai
flutuava de alegria quando soube que enfim tinha nascido uma
princesinha. Agora sim, ele ia ter uma Marilyn em casa. Mas minha mãe
se negou e até ameaçou com divórcio. No fim meu pai se conformou
com o par de emes, e passei a me chamar Maria Margarita, um nome que,
para dizer a verdade, jamais gostei muito: me soava a mansidão, a
conformismo, a mãe submissa.
E
eu queria ser outra coisa na vida.
Não
sabia o quê, mas outra coisa.
Nisso
eu me parecia com a minha mãe. Ela nunca estava conformada com nada,
andava sempre mudando o penteado, provando maquiagens novas,
ensaiando beicinhos e poses na frente do espelho, repetindo uma coisa
que a menina que eu era naquele tempo mal atinava a entender:
“Por
que se conformar com ser vaga-lume, digo eu, podendo ser estrela?”
E
se requebrava feito louca na frente do espelho.
Por
isso, quando me tornei conhecida como contadora de filmes, procurei
um nome mais de acordo com a minha arte. Mas continuo adiantando a
história.
Paciência,
essa parte vem depois.
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
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