domingo, 27 de agosto de 2023

Poema inédito de Fernando Pessoa é descoberto, quase 90 anos após sua morte


Escrito em estilo literário persa, poema é atribuído a Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa

Recentemente, o escritor e biógrafo norte-americano Richard Zenith, autor da biografia de um dos maiores poetas portugueses da história, Fernando Pessoa, descobriu um poema inédito da lenda literária. O pequeno texto foi encontrado no verso de uma folha datilografada de “Novela Curta”, publicado em 1929, um texto atribuído a Álvaro da Campos, um de seus heterônimos.
Conforme descrito pela Folha de S. Paulo, os versos foram escritos pelo poeta português como se fossem um ruba'i, um estilo de poema de origem persa que Pessoa muito apreciava. O texto originalmente foi escrito a lápis na página.
De acordo com Richard Zenith em entrevista ao jornal Público, o estilo de escrita em ruba'i ajudou, inclusive, a decifrar o texto. Isso porque Fernando Pessoa era bastante influenciado pelo gênero literário persa, e já escreveu outros poemas adotando-o — como ‘Canções de Beber’. Confira os versos do novo achado:

A ave canta livre onde está presa / O servo dorme e o sonho lhe é surpresa / Liberta-te, mas nega a liberdade / Poder e não querer, eis a grandeza.

Poeta fragmentado
Ainda hoje, no campo da poesia foram poucos os que fizeram o que Fernando Pessoa fez. Nascido em 13 de junho de 1888 em Lisboa, Portugal, o poeta marcou a literatura com vários livros e obras emblemáticos, mas que até hoje muitos seguem perdidos devido a uma confusão em sua vida artística: ele utilizava-se de heterônimos.
Os heterônimos, para quem se pergunta, são como “outras personas” autoras de Fernando Pessoa; ou seja, muitos textos se perderam por serem creditados com outro nome, que não o de Pessoa. Três dos heterônimos mais famosos utilizados pelo autor eram: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Ricardo Reis, no caso, foi o primeiro heterônimo criado pelo português, sendo este um grande adepto do neoclassicismo e também discípulo de Alberto Caeiro. Ele seria natural de Lisboa ou da cidade do Porto, nascido em 19 de setembro de 1887, formado em medicina e monarquista, com poemas centrados principalmente na efemeridade e no amor.
Álvaro de Campos, por sua vez, seria natural de Taviria, nascido em 15 de outubro de 1890 e teria estudado na Escócia, sendo formado em Engenharia. Em suas obras, percebe-se um estilo mais próximo ao Modernismo e Futurismo, apoiando o sensacionismo — ou seja, acreditava que todo conhecimento e faculdades cognitivas provêm de sensações —, e utilizava verso regular e livre.
Já Alberto Caeiro seria um homem que viveu em meio rural, junto da tia-avó, mas morreu relativamente cedo, em 1915, devido a uma tuberculose. Bucólico, o poeta era defensor do sensacionalismo, partidário do paganismo, e usava-se de linguagem simples, escrevendo em texto livre.
Vale lembrar que estes não são os únicos heterônimos de Fernando Pessoa, com alguns estudos descrevendo até mais de 70. Por isso, muitos acreditam que o poeta português ainda pode nos revelar cada vez mais facetas ao longo da história.

Fonte: AH. Acesse aqui.

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