Motivos
para mágoa e revolta nunca faltaram para Gonzaguinha. Da infância e
adolescência sofridas, marcadas pelos conflitos com o pai (Luiz
Gonzaga), até começar sua carreira no período mais tenebroso da
ditadura militar, foram muitas as pedras no caminho. Mas, a partir do
fim dos anos 1970, depois de anos de guerra com a Censura e a
ditadura que lhe valeram o apelido de cantor-rancor, amadureceu, teve
filhos e reinventou-se como um eterno aprendiz, cantando que, apesar
de todas as dores, injustiças e horrores, a vida era bonita e podia
ser ainda melhor.
“A
vida da gente é um nada no mundo / É uma gota, é um tempo que nem
dá um segundo / Há quem fale que é um divino mistério profundo /
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.”
Faixa
de abertura de seu 11o álbum solo, Caminhos do coração,
lançado em 1982, “O que é, o que é ?” sintetiza a visão de
mundo que passou a pautar o artista maduro. Na época, o Brasil vivia
os estertores da ditadura militar e o país avançava na abertura
política que levaria à eleição indireta de Tancredo Neves em
1985. Cada um seria livre para compor o que quisesse.
Por
seu estilo festivo, sua batida empolgante, sua linguagem popular, a
música foi até classificada como um paradoxal “samba-exaltação
de protesto”, por traduzir o sentimento de brasileiros que
apostavam na esperança e nas mudanças.
Tendo
seu compositor disputado pelas grandes intérpretes da MPB depois da
gravação original, “O que é, o que é?” virou clássico, com
sua mensagem de fé e esperança atravessando o tempo nas vozes de
Simone, Maria Bethânia, Beth Carvalho e Zé Ramalho.
De
bem com a vida, Gonzaguinha, infelizmente, teve fim precoce: em 1991,
aos 45 anos, morreu vítima de um acidente no carro que dirigia numa
estrada do Paraná.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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