terça-feira, 29 de agosto de 2023

O que é, o que é? | Gonzaguinha, 1982


Motivos para mágoa e revolta nunca faltaram para Gonzaguinha. Da infância e adolescência sofridas, marcadas pelos conflitos com o pai (Luiz Gonzaga), até começar sua carreira no período mais tenebroso da ditadura militar, foram muitas as pedras no caminho. Mas, a partir do fim dos anos 1970, depois de anos de guerra com a Censura e a ditadura que lhe valeram o apelido de cantor-rancor, amadureceu, teve filhos e reinventou-se como um eterno aprendiz, cantando que, apesar de todas as dores, injustiças e horrores, a vida era bonita e podia ser ainda melhor.
A vida da gente é um nada no mundo / É uma gota, é um tempo que nem dá um segundo / Há quem fale que é um divino mistério profundo / É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.”
Faixa de abertura de seu 11o álbum solo, Caminhos do coração, lançado em 1982, “O que é, o que é ?” sintetiza a visão de mundo que passou a pautar o artista maduro. Na época, o Brasil vivia os estertores da ditadura militar e o país avançava na abertura política que levaria à eleição indireta de Tancredo Neves em 1985. Cada um seria livre para compor o que quisesse.
Por seu estilo festivo, sua batida empolgante, sua linguagem popular, a música foi até classificada como um paradoxal “samba-exaltação de protesto”, por traduzir o sentimento de brasileiros que apostavam na esperança e nas mudanças.
Tendo seu compositor disputado pelas grandes intérpretes da MPB depois da gravação original, “O que é, o que é?” virou clássico, com sua mensagem de fé e esperança atravessando o tempo nas vozes de Simone, Maria Bethânia, Beth Carvalho e Zé Ramalho.
De bem com a vida, Gonzaguinha, infelizmente, teve fim precoce: em 1991, aos 45 anos, morreu vítima de um acidente no carro que dirigia numa estrada do Paraná.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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