quinta-feira, 27 de julho de 2023

1511 – Aymaco | Becerrillo

A insurreição dos caciques Agüeynaba e Mabodamaca foi esmagada e todos os prisioneiros marcharam para a morte.
O capitão Diego de Salazar descobre uma velha, escondida entre os arbustos, mas não a atravessa com a espada.
Vamos – diz. – Leva esta carta ao governador, que está em Caparra.
A velha abre os olhos aos poucos. Tremendo, estende os dedos.
E se põe a caminhar. Caminha como menino pequeno, com o balançar de um ursinho, e leva o envelope como estandarte ou bandeira.
Quando a velha está à distância de um tiro de balestra, o capitão solta Becerrillo.
O governador Ponce de León ordenou que Becerrillo receba o dobro de salário que um soldado balestrero, por ser descobridor de emboscadas e caçador de índios. Não têm pior inimigo os índios de Porto Rico.
A rajada derruba a velha. Becerrillo, duras as orelhas, arregalados os olhos, a devorará de uma só vez.
Senhor cachorro – suplica – , eu vou levar esta carta ao senhor governador.
Becerrillo não entende a língua do lugar, mas a velha mostra-lhe o envelope vazio.
Não me faça mal, senhor cachorro.
Becerrillo cheira o envelope. Dá umas voltas em torno deste saco de ossinhos trêmulos que geme palavras, levanta uma pata e mija.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário