Em
1978, depois de 14 anos de ditadura militar, o presidente Ernesto
Geisel prosseguia com uma polêmica abertura política por ele
chamada de “lenta, gradual e segura”. Mesmo enfrentando uma
facção linha-dura do Exército que queria tomar o poder, esse
processo levaria ao desmanche da rede subterrânea de tortura, com a
demissão do general responsável pela morte do jornalista Vladimir
Herzog, e também a um início de abrandamento da Censura prévia.
“Terra”
foi a canção de abertura do extraordinário LP Muito (Dentro da
estrela azulada), que Caetano lançou naquele ano, com clássicos
como “Sampa”, “Muito romântico” e “São João Xangô
menino”. Sua letra dizia o que até então não podia ser dito:
“Quando eu me encontrava preso / na cela de uma cadeia”,
referência à sua prisão junto com Gilberto Gil, em dezembro de
1968, que os levou ao exílio em Londres.
Foi
em 1969, quando estava preso no Rio, que Caetano viu uma foto da
Terra no espaço feita por um satélite artificial. Pela primeira vez
o planeta em todo o seu esplendor azul e feminino, ao “não vê-la
nua mas sim coberta de nuvens”. Do confinamento abjeto somos
transportados ao amor à liberdade e à grandiosidade cósmica do
planeta em alguns versos.
Depois,
Caetano brinca com a interação de signos astrológicos com planetas
no espaço, apaixonado “por uma menina terra, signo de elemento
terra”, se dizendo “um leão de fogo / que sem ti me consumiria a
mim mesmo eternamente”.
A
canção, que se desenvolve em clima denso, com frases musicais
sinuosas, não foi um sucesso popular, mas provocou profunda emoção
em crítica e público, marcando um tempo de reinício e de
esperanças.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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