O
telefonema seguinte de Jon Pinchot veio três ou quatro dias depois.
Ele conhecia Danny Server, o jovem diretor-produtor que tinha um
estúdio cinematográfico completo em Venice. Danny ia emprestar-nos
sua sala de projeção para a gente ver o documentário de Pinchot, A
Besta que Ri, sobre um governante negro que fazia o que queria, com
sangrento prazer. Primeiro, tínhamos de encontrar Pinchot para uns
drinques. E assim, estávamos de volta ao cais dos barcos a vela...
Jon
atendeu à porta e Sarah e eu entramos. Ele não estava só. Tinha um
cara lá, com uns cabelos estranhos: pareciam louros e brancos ao
mesmo tempo. Rosto rosado, mais para vermelho. Olhos de um redondo
azul alucinado, muito redondos, muito azuis. Parecia um colegial
pronto para fazer uma terrível travessura. Eu saberia depois que
jamais perdia essa aparência. A gente gostava dele de saída.
– Este
é François Racine – disse Jon. – É ator de muitos de meus
filmes, e de outros.
– E
nos outros, me pagam... – François fez uma mesura. – Como vão?
Jon
saiu para pegar as bebidas.
– Me
perdoem, por favor – disse François –, acabo num instante.
Sobre
a mesa, via-se uma pequena roda de roleta, de controle eletrônico,
que era posta a girar apertando-se um botão. François tinha um
monte de fichas e uma longa folha de papel cheia de cálculos. Havia
também um tapete de apostas. Ele colocava as fichas, apertava o
botão, dizia:
– É
a minha Dama da Cabeça Giratória. Estou apaixonado.
Jon
apareceu com os drinques.
– Quando
não está jogando de fato, François está treinando, ou pelo menos
pensando na coisa.
A
roda parou e François arrecadou seu prêmio.
– Estudei
as permutações da roda, e saquei – disse François. – Assim,
onde quer que ela pare, já adivinhei e ganho.
– E
o sistema dele funciona – disse Jon –, mas quando chega nos
cassinos ele não se mantém dentro do sistema.
– Muitas
vezes sou derrotado pelo Desejo de Matar – explicou François.
– Hank
joga – disse Sarah. – Nos cavalinhos. Está lá todo dia de
corrida.
François
me olhou.
– Ah,
os cavalinhos! Você ganha?
– Me
agrada pensar que sim...
– Ah,
podemos ir um dia?
– Claro.
François
retornou à sua rodinha, e nós nos sentamos com nossos drinques.
– Ele
já ganhou e perdeu centenas de milhares – contou-nos Jon. – Só
quer ser ator quando está na pior.
– Faz
sentido – eu disse.
– A
propósito – disse Jon. – Falei com o produtor Harold Pheasant, e
ele está muito interessado no argumento. Está disposto a entrar com
grana pro filme.
– Harold
Pheasant! – disse Sarah. – Já ouvi falar dele. É um dos maiores
produtores do ramo.
– Certo
– disse Jon.
– Mas
eu não escrevi um argumento – contestei.
– Não
importa. Ele conhece o que você escreve. Está disposto.
– Não
parece plausível.
– Ele
trabalha muitas vezes assim, e só faz faturar.
Jon
foi buscar a garrafa.
– Talvez
você deva escrever o argumento – sugeriu Sarah.
– Veja
o que aconteceu com F. Scott Fitzgerald.
– Você
não é Fitzgerald.
– Não,
ele deixou de beber. Isso o matou.
François
ainda estava à sua roletinha. Jon apareceu com a garrafa.
– A
gente toma mais uma e vai.
– Legal
– eu disse.
– Escuta,
François, você vem com a gente? – perguntou Jon.
– Oh,
não, me perdoem, por favor, preciso pesquisar mais um pouco aqui…
Charles Bukowski, in Hollywood
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