quinta-feira, 28 de julho de 2022

A flor e o espinho | Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha, 1957

Sucesso no disco Elizeth sobe o morro, de 1965, o samba “A flor e o espinho” tinha sido gravado (e ignorado pelo público) oito anos antes pelo hoje esquecido cantor Raul Moreno. Na voz de Elizeth Cardoso se tornou um dos maiores clássicos do gênero, com a marca registrada da dupla Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que, nesta música, contou com o auxílio luxuoso de Alcides Caminha.
Foi nesse tempo que, já cinquentão, Nelson Cavaquinho começou a sair das sombras e a ser reconhecido. Não só pelos sambas que vinha compondo desde a década de 1930, mas também como cantor de voz rouca e violonista originalíssimo. Uma das atrações do Zicartola, o misto de restaurante e casa de samba que o casal Dona Zica e Cartola manteve entre 1963 e 1965 no Centro do Rio, Nelson também foi gravado com sucesso por Nara Leão, Elis Regina e Beth Carvalho, que se tornou a sua grande intérprete.
Apesar do sobrenome artístico, Nelson Antônio da Silva (1911-1986) trocou o cavaquinho pelo violão na juventude. Autodidata, desenvolveu um estilo inusitado e rústico, usando apenas o polegar e o indicador para tocar com vigor nas cordas do instrumento.
É difícil imaginar que esse arquétipo do sambista boêmio e bom de copo, vagando de bar em bar com seu violão, tenha sido soldado da Polícia Militar. Mas, nos anos 1930, após servir o Exército, ele se dividiu um bom tempo entre a PM e o samba, atuando na região do Morro da Mangueira, onde ficou amigo de Cartola, Carlos Cachaça e outros bambas, chamando a atenção de Noel Rosa. Acabou largando a farda, mas passou as décadas de 1940 e 1950 vivendo de bicos, muitas vezes vendendo seus sambas para “comprositores” ou cantores, prática comum na época.
Nelson teve duas dezenas de parceiros, mas o encontro com Guilherme de Brito (1922-2006), no início dos anos 1950, foi fundamental. Também o letrista de Nelson em clássicos como “Folhas secas”, “Quando eu me chamar saudade” e “Pranto de poeta”, num fim de noite na Praça Tiradentes, após uma festa, Guilherme teve a ideia para os versos de abertura de “A flor e o espinho”, que se tornaram clássicos na música brasileira:
Tire o seu sorriso do caminho / que eu quero passar com a minha dor.”
No dia seguinte, mostrou para Nelson a letra amargurada, que foi completada por Alcides Caminha (1921-1992), um funcionário do Ministério do Trabalho que manteve por três décadas uma vida secreta como autor de quadrinhos eróticos e se celebrizou como Carlos Zéfiro.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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