quarta-feira, 30 de março de 2022

Macadame

Quando fresco, parece caviar, faz um barulho de cacos de vidro, de alguém mordendo gelo.
Eu mordia gelo quando a limonada acabava, balançando com a minha avó no balanço da varanda. Ficávamos olhando lá para baixo, para o grupo de presidiários acorrentados que estava pavimentando a Upson Street. Um capataz derramava o macadame; os prisioneiros o calcavam com batidas fortes e ritmadas. As correntes retiniam; o macadame fazia barulho de aplausos.
Nós três dizíamos essa palavra com frequência. Minha mãe porque odiava o lugar onde morávamos, sujo e miserável, e agora pelo menos teríamos uma rua de macadame. Minha avó apenas porque queria muito que as coisas ficassem limpas — o macadame iria segurar a poeira. A poeira vermelha texana que o vento soprava para dentro de casa com resíduos cinza da fundição, formando dunas no piso encerado do hall, na mesa de mogno.
Eu dizia macadame em voz alta, para mim mesma, porque parecia um nome para um amigo.

Lucia Berlin, in Manual da faxineira: Contos escolhidos

Nenhum comentário:

Postar um comentário