Querido
Oswaldo,
Não
pense que estas palavras são fáceis para mim. É um momento duro,
mas que preciso encarar. Opto por escrever uma carta, pois não sou
forte o suficiente para te dizer isso cara a cara. Por favor, não
pense que não faço isso pessoalmente por causa dos seus problemas
gástricos que te deixam com aqueles problemas de mau hálito. Não.
Você sabe que não tenho nenhum problema com isso. Nem com a sua
língua presa que te faz cuspir um pouco quando fala. Mesmo. A
questão é outra.
Venho
te dizer que nossa relação mudou muito. Nós dois sabemos disso.
Claro que isso não tem nada a ver com sua disfunção erétil, nem
com o fato de ter ganhado vinte e cinco quilos desde que nos
conhecemos. Sempre gostei de você por aquilo que você é por dentro
(mesmo que você não goste de crianças e de animais nem se
interesse por arte, sempre soube que seu coração vale ouro –
mesmo com a ponte de safena).
Tenho
muito apreço pela sua família. Sua mãe nunca me aceitou muito bem,
mas as coisas estavam melhorando. No meu último aniversário, ela me
mandou uma conserva de pimentões. Estava fora do prazo de validade
havia dois anos, mas o importante é a intenção.
Mas,
sabe? Estou num momento difícil, no qual preciso me encontrar. Não
que você atrapalhe, pois você sabe que eu sempre adorei ficar com
seus quatro filhos do primeiro casamento enquanto você ia ao estádio
ou relaxar um pouco no bar com os amigos, mas ando precisando de um
tempo pra mim.
A
última coisa que quero fazer é te magoar. Não pense que isso é
algum tipo de retaliação por causa daquele dia em que te flagrei na
cama com o zelador do seu prédio. Essas coisas acontecem com todo
casal… Mas realmente preciso de um momento meu. Pois, se fosse para
estar com alguém, esse alguém seria mesmo você.
Você
é um homem incrível. O desemprego não é sua culpa, o país está
em crise. A calvície tem seu charme, e adoro seus óculos de lentes
grossas (de toda forma, tente levá-los para o conserto, aquele durex
na haste já está amarelado). Qualquer mulher pode ser feliz ao seu
lado.
Me
desculpe mais uma vez, o problema não é você, sou eu.
Com
carinho,
Vanessa
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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