Contemplai as minhas obras, ó
poderosos, e desesperai-vos!
Brincadeirinha. Acredite, eu
contabilizei todas as variáveis de ironia. Embora eu suponha que se
você não estiver familiarizada com as obras superantologizadas do
início do século XIX do Filamento 6, a piada sou eu.
Eu estava te esperando.
Você está se perguntando o que é
isso — mas não está, eu acho, se perguntando quem sou eu. Você
sabe — assim como eu soube, desde que nossos olhos se encontraram
durante aquela confusão em Abrogast-882 — que nós temos negócios
pendentes.
Vou confessar a você que eu estava me
tornando complacente. Entediada, até, com a guerra; com as incursões
rápidas da sua Agência fio acima e fio abaixo, com a paciente
plantação e poda de filamentos de Jardim, com me embrenhar na
trança do tempo. A força imparável de vocês contra nosso objeto
inamovível; mais um jogo da velha do que um jogo de Go, resultados
determinados pelo primeiro movimento, repetições sem fim até o
ponto onde surgem vertentes de possibilidades caóticas e instáveis
— o futuro que procuramos assegurar à custa uma da outra.
Mas aí você apareceu.
Minhas margens sumiram. Todos os
movimentos que eu fazia mecanicamente passei a ter que fazer com
atenção completa. Você trouxe profundidade à velocidade do seu
time, um poder duradouro, e eu me peguei trabalhando a toda
novamente. Você revigorou o esforço de guerra do seu Turno e, no
processo, me revigorou.
Por favor, veja minha gratidão ao seu
redor.
Devo dizer que me dá um prazer imenso
pensar em você lendo essas palavras em línguas e espirais de
chamas, seus olhos incapazes de voltar atrás, incapazes de manter as
letras na página; em vez disso, você precisa absorvê-las,
guardá-las na memória. Para relembrá-las, você precisa procurar
minha presença em seus pensamentos, enredada entre eles como a luz
do sol na água. Para reportar minhas palavras a seus superiores,
você precisa se admitir já infiltrada, outra baixa desse dia
desafortunado.
É assim que vamos vencer.
Não é minha intenção apenas me
gabar. Quero que você saiba que admirei suas táticas. A elegância
do seu trabalho faz com que essa guerra pareça menos vã. Falando
nisso, o sistema hidráulico na sua manobra esférica flanqueada era
realmente magnífico. Espero que você tire algum conforto de saber
que ele será completamente digerido pelas nossas trituradoras, então
nossa próxima vitória contra o seu lado terá um pedacinho seu.
Mais sorte na próxima vez.
Com afeto,
Blue
Amal El-Mohtar & Max Gladstone, in É assim que se perde a guerra do tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário