terça-feira, 30 de novembro de 2021

Corpo, alma e inteligência

Corpo, alma e inteligência. Ao corpo, pertencem as sensações. À alma, os impulsos. À inteligência, as convicções. Até mesmo os animais recebem impressões a partir das aparências das formas. Até as feras selvagens, os catamitas, Fálaris e Nero são impulsionados pelas cordas do desejo. Até os hereges, os traidores da pátria e os praticantes de atos impuros a portas fechadas possuem a inteligência que direciona ao que parece adequado.
Se essas qualidades são comuns aos mencionados, restam as exclusivas do homem bom:
I. A aptidão para se satisfazer com os acontecimentos e se contentar com fio tecido para ele.
II. A preservação da tranquilidade e a obediência à divindade guardada em seu peito—sem contaminá-la ou perturbá-la com uma multidão de imagens.
III. A inclinação para não dizer o oposto da verdade e não agir contrário à justiça.
O homem bom não se zanga com os que se recusam a acreditar que ele vive contente e de maneira simples e modesta. Não se desvia do caminho que leva ao fim da vida, onde se deve chegar puro, tranquilo e pronto para partir—sem qualquer compulsão desconciliada da sorte.

Marco Aurélio, in Meditações do Imperador Marco Aurélio: Uma Nova Tradução

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