Corpo, alma e inteligência. Ao corpo,
pertencem as sensações. À alma, os impulsos. À inteligência, as
convicções. Até mesmo os animais recebem impressões a partir das
aparências das formas. Até as feras selvagens, os catamitas,
Fálaris e Nero são impulsionados pelas cordas do desejo. Até os
hereges, os traidores da pátria e os praticantes de atos impuros a
portas fechadas possuem a inteligência que direciona ao que parece
adequado.
Se essas qualidades são comuns aos
mencionados, restam as exclusivas do homem bom:
I. A aptidão para se satisfazer com os
acontecimentos e se contentar com fio tecido para ele.
II. A preservação da tranquilidade e a
obediência à divindade guardada em seu peito—sem contaminá-la ou
perturbá-la com uma multidão de imagens.
III. A inclinação para não dizer o
oposto da verdade e não agir contrário à justiça.
O homem bom não se zanga com os que se
recusam a acreditar que ele vive contente e de maneira simples e
modesta. Não se desvia do caminho que leva ao fim da vida, onde se
deve chegar puro, tranquilo e pronto para partir—sem qualquer
compulsão desconciliada da sorte.
Marco Aurélio, in Meditações do Imperador Marco Aurélio: Uma Nova Tradução
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