na cidade. O último crime
foi cometido no tempo dos bisavós.
Ninguém foge de casa, ninguém trai.
Repetição de cores e casos, ó bolor da
vida longa, no chão pregada a oitenta pregos!
As pessoas se cumprimentam, se perguntam
sempre as mesmas coisas, esperando
lentas confirmações
milimetricamente conhecidas.
Ai, tão bem-educadas, as pessoas.
Que fazer para não morrer de paz?
Cada morador limpa sua carabina,
convoca o perdigueiro, saem todos
a matar veado, capivara e paca.
Três dias a morte campeia
no mato violento.
Voltam os caçadores triunfantes,
assunto novo para três meses
e se fotografam entre bichos mortos
com inocência de heróis
regressando de Troia.
Carlos Drummond de Andrade
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