Dentro
do pacote de açúcar, Renata encontrou uma pérola. A pérola era
evidentemente para Renata, que sempre desejou possuir um colar de
pérolas, mas sua profissão de doceira não dava para isto.
— Agora
vou esperar que cheguem as outras pérolas — disse Renata,
confiante. E ativou a fabricação de doces, para esvaziar mais
pacotes de açúcar.
Os
clientes queixavam-se de que os doces de Renata estavam demasiado
doces, e muitos devolviam as encomendas. Por que não aparecia outra
pérola? Renata deixou de ser doceira qualificada, e ultimamente só
fazia arroz-doce. Envelheceu.
A
menina que provou o arroz-doce, aquele dia, quase já ia quebrando um
dente, ao mastigar um pedaço encaroçado. O caroço era uma pérola.
A mãe não quis devolvê-la a Renata, e disse:
— Quem
sabe se não aparecerão outras, e eu farei com elas um colar de
pérolas? Vou encomendar arroz-doce toda semana.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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