O
custo de vida continuava subindo. Subindo.
Os
tratadistas de ciências econômicas já não tinham explicações
científicas para a ascensão contínua, cada vez mais acelerada.
— Deve
ser fenômeno psicológico — explicou um explicador. — O custo de
vida sobe porque a gente acha que ele está subindo. Se a gente
achasse o contrário, ele iria baixando, baixando, até ficar deste
tamanhim — e levantava o dedo mínimo, esse que serve para fixar o
salário.
Os
habitantes fizeram tamanha força para achar que estava baixando, que
muitos adoeceram de exaustão, com febre que também subia a cada
hora. Como subiam os remédios febrífugos, cada vez mais caros.
Então
as autoridades especializadas propuseram ao governo uma linha de
financiamentos para montagem de fábricas de escadas elásticas, que
os habitantes passarão a usar, acompanhando a elevação do custo de
vida. Sempre. Ad astra.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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